Um corredor verde junto ao muro da escola foi a proposta eleita para representar a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Idalino Pedro da Silva, localizada em Parobé (RS), nas atividades da VI Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente (CNIJMA). Concebida por uma turma de estudantes da escola, a faixa de grama foi pensada para aumentar a permeabilidade do solo e a infiltração da água, diminuindo alagamentos e facilitando o acesso à instituição de ensino. A presença de árvores nativas no local também contribuiria para melhorar questões térmicas dentro das salas de aulas.
A elaboração desses problemas e de uma solução ambiental para eles foi possível devido à participação da escola na etapa Conferência na Escola, da VI CNIJMA. Até o dia 30 de junho, 61.806 escolas públicas e particulares de todo o país podem participar da etapa de conferência. A única exigência é ter ao menos uma turma dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano). No Brasil, esse universo de escolas tem potencial para mobilizar mais de 775 mil professores e nove milhões de estudantes. Em 2025, o tema da CNIJMA é “Vamos transformar o Brasil com educação e justiça climática”.
Aos 11 anos, a estudante da 6ª série da escola Idalino Pedro da Silva, Isadora Sofia dos Santos da Silva, orgulha-se do projeto apresentado e escolhido pela escola. “O projeto trata de duas questões climáticas muito importantes para a nossa comunidade: os alagamentos e as proximidades da enchente e as ondas de calor e os problemas térmicos na sala de aula”, explicou. “Nós vamos retomar um terreno da escola cedido para construir um calçadão, retirar parte dele e fazer um jardim de chuva, que vai ajudar a infiltrar a água. Ainda vamos plantar cinco árvores nativas adultas, que no outono e no inverno perdem as folhas e deixam o sol entrar, melhorando o conforto térmico o ano todo”, completou.
Eleita delegada pelos seus colegas, ou seja, a estudante responsável por representar a escola na conferência, Isadora Sofia levou a sério o projeto elaborado em sala de aula e já iniciou as ações práticas para a concretização. “Procuramos a prefeitura e incluímos a nossa proposta no projeto municipal, que está organizando ações de prevenção de riscos de desastres ambientais. Já conseguimos o maquinário para o corte do calçadão e as cinco árvores nativas adultas. Nossa previsão é concluir esse projeto, na prática, até junho”, orgulhou-se.
A CNIJMA é promovida pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Integração – Cerca de 350 alunos de 10 turmas dos anos finais da escola municipal participaram da Conferência na Escola. No dia de apresentação dos projetos, não apenas eles assistiram às propostas dos demais, como também toda a escola e alguns convidados da comunidade. “No dia da conferência, a escola toda conheceu as propostas construídas. Nossa conferência buscou informações e mobilizou moradores da avenida, do comércio e cerca de 60 famílias que foram atingidas pelas enchentes no ano passado”, explicou a vice-diretora da EMEF Idalino Pedro da Silva, Carolina Willers.
Segundo a vice-diretora e professora de ciências, a integração da comunidade foi fundamental no processo da CNIJMA na escola. “Os estudantes fizeram entrevistas com os moradores, algumas saídas de campo e alguns moradores também foram convidados para participar do debate”. “Busco trazer aos jovens de hoje a importância de estarmos presentes na comunidade, sendo ouvintes e protagonistas de novas contribuições sociais, sejam elas no serviço público ou no serviço à comunidade”, reforçou Carolina.
O principal objetivo da CNIJMA é fortalecer ações formativas no campo da educação ambiental, para que as escolas se constituam como espaços educadores sustentáveis e resilientes. Em 2022, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou que crianças e adolescentes constituem um dos grupos mais vulneráveis aos seus impactos e precisam ser priorizados. No caso do Brasil, 40 milhões de jovens (60% do total da juventude), encontram-se expostos a mais de um risco climático ou ambiental. Fenômenos como enchentes que alagaram o estado do Rio Grande do Sul, em 2024, agravam esses números. Sozinhas, as enchentes afetaram, por exemplo, 1.044 escolas de 243 municípios do estado, no ano passado.
Nesse contexto, a VI CNIJMA representa uma oportunidade de a educação, em especial a ambiental, assumir sua responsabilidade no enfrentamento da mudança do clima, bem como na construção de conhecimentos e práticas de prevenção de riscos, capacidade adaptativa e resiliência aos desastres socioambientais, em diálogo com as comunidades escolares de todo o país.
Justiça climática – O convite para que as escolas desenvolvam jornadas pedagógicas que contribuam com seus territórios no enfrentamento das mudanças do clima foi abraçado pela professora de História para os anos finais do Ensino Fundamental da EMEF Idalino Pedro da Silva, Cristiane de Oliveira Nunes. “Fizemos vivências circulares, onde os alunos foram apresentados aos eixos e então conversamos sobre propostas. Então, foi pedido que eles apresentassem ideias que possibilitassem ter uma melhoria no ambiente da escola, para ela se tornar cada vez mais sustentável”, afirmou.
A professora destacou a relevância de trabalhar o tema da justiça climática junto aos estudantes. “Para a nossa escola, o assunto tem um significado diferente, pois diversas famílias foram atingidas pelas enchentes de maio de 2024. Falamos, por exemplo, sobre as diferenças de acesso às infraestruturas públicas. E, a partir daí, do papel da comunidade escolar para as melhorias que possam ser feitas na nossa cidade, diminuindo esses abismos sociais”. O termo “justiça climática” é usado por movimentos socioambientais para mostrar que a crise climática não é um assunto que deve ser enfrentado apenas do ponto de vista ambiental e por meio de soluções tecnológicas, mas principalmente em termos éticos e políticos.
Com-Vida – Um diferencial da realização da etapa Conferência na Escola na EMEF Idalino Pedro da Silva é que ela foi integralmente realizada por participantes da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (Com-Vida) da escola. A criação (ou reativação) e a mobilização dessa comissão está entre as sugestões dos passos a serem seguidos pelas escolas na realização da CNIJMA. Os passos da Conferência na Escola podem ser divididos em três etapas principais (antes, durante e depois), que estão detalhadas em um documento que pode ser acessado na página da VI CNIJMA, dentro do portal do Ministério da Educação.
A Com-Vida é uma estrutura a ser criada durante a conferência, mas que passa a ser permanente, com o objetivo de integrar conhecimentos, valores, atitudes, sentimentos e ações voltadas ao cuidado com o espaço socioambiental e toda a sua diversidade. No processo de concepção da conferência, ela pode ser formalizada logo após a definição de data da conferência, em uma etapa inicial.
A gestora de Educação Ambiental da Secretaria de Educação de Parobé, Sabrina Dinorá Santos do Amaral, informou que o município conquistou uma tradição benéfica na criação de comissões, promovendo uma troca de conhecimento entre as instituições e uma cultura em prol da educação ambiental. “Desde 2005, as escolas de Parobé possuem comissões de meio ambiente. Algumas conseguiram mantê-las desde então, outras tiveram hiatos e as retomaram em seguida”, afirmou. Sabrina acompanha a CNIJMA desde a primeira edição da conferência, em 2003, já tendo participado de etapas escolares, municipais e estaduais, além da nacional. “Eu fiz um cálculo de mais de 300 Com-Vidas em escolas que eu tive a oportunidade de participar, mobilizar e auxiliar para a criação”, contabilizou.
A participação da Com-Vida na escola Idalino Pedro da Silva foi considerada propositiva pela gestora. “A Com-Vida foi muito participativa, toda a conferência foi organizada pela comissão, desde o mestre de cerimônias. O uso do microfone foi todo feito pelos participantes da Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida, que já é uma cultura de Parobé”, celebrou. A gestora indicou que a conferência se integra a um projeto municipal em que as escolas se propõem a fazer uma transição para se tornarem um “espaço educador sustentável”. Além disso, estudantes ainda são convidados a participar de uma outra proposta da cidade, chamada “Preparados: jovens resilientes em emergência climática”.
“Com toda essa gama de ações, a gente procura colocar em prática uma educação ambiental crítica, emancipatória, e que tem as questões de enfrentamento às mudanças climáticas como um dos suportes para as ações de qualidade de vida da comunidade”, finalizou Sabrina Amaral. Um dos processos pedagógicos da CNIJMA é, justamente, contribuir para que as escolas se constituam como espaços educadores sustentáveis, resilientes e acessíveis no enfrentamento das mudanças do clima, estruturando o apoio à construção e à troca de conhecimentos no cotidiano da comunidade escolar a partir da Com-Vida.
Confira os três passos para a criação de uma comissão:
Um grupo de estudantes organiza e divulga a primeira reunião com o apoio dos professores. Para isso, será necessário definir assunto ou pauta, data, horário e local. Em seguida, produzir convite ou cartaz e divulgar. Isso pode ser feito por meio de postagens em redes sociais, boletins, avisos em murais, rádio, alto-falante, entre outras possibilidades.
O propósito da primeira reunião é debater e aprovar a Com-Vida: seus objetivos, forma de organização, definição de quem participa e cronograma das atividades. Durante a reunião se faz um Acordo de Convivência, ou seja, diversos combinados, coletivamente pactuados, para que a Com-Vida funcione de forma respeitosa e harmônica, alcançando o objetivo maior para o qual está sendo criada.
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Fazer planos e agir
Só tem sentido criar a Com-Vida se for para modificar para melhor o dia a dia da escola e da comunidade. Para isso acontecer é preciso muita dedicação, estudo, planejamento e principalmente vontade de pôr a mão na massa.
Registro – As escolas que já realizaram a Conferência na Escola podem registrá-la no portal do MEC, por meio da página da VI CNIJMA. O registro é fundamental para garantir a participação das escolas nas próximas etapas da conferência e pode ser feito até o dia 5 de julho.
Para o registro, é preciso cadastrar o projeto de ação, bem como os dados do delegado, do suplente e dos professores acompanhantes, e responder às questões sobre os resultados da conferência. Não é possível alterar as informações após o envio, efetivado quando a mensagem “formulário enviado com sucesso” aparece na tela. O link para a emissão do certificado de realização da VI CNIJMA na escola será enviado para o e-mail informado no registro.
CNIJMA – A VI Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente funciona como pretexto pedagógico para promover a educação ambiental nas escolas e estimular o público infantojuvenil a se tornar agente ativo de mudanças nas ações de mitigação e adaptação às mudanças do clima. A iniciativa foi realizada pela primeira vez em 2003. Nas cinco edições realizadas ao longo de 15 anos (2003-2018), mais de 20 milhões de pessoas participaram: crianças e adolescentes de 11 a 14 anos (como delegados); jovens de 18 a 29 anos (como mobilizadores, facilitadores, oficineiros e gestores); professores e profissionais das comunidades escolares; e gestores da educação e do meio ambiente.
Assessoria de Comunicação do MEC